“PERSPECTIVAS PARA O MERCADO DE OUTLET NO BRASIL”

Por Michel Cutait em 16 de julho de 2014

O mercado de Outlets está em transformação no Brasil. Há cerca de 15 anos, surgiram os primeiros empreendimentos com o perfil de Outlet, mas o resultado não foi o esperado, e esses empreendimentos fecharam ou foram transformados em Shopping Centers tradicionais.

Nos últimos 3 anos, o mercado de Shopping Centers voltou a se interessar pelo nicho dos Outlets. Esse interesse coincidiu com o desenvolvimento do mercado de Varejo no Brasil, especialmente fomentado pelo crescimento econômico, pela expansão das empresas de Varejo no Brasil, pela entrada de muitas empresas internacionais de varejo no mercado brasileiro e pela profissionalização da indústria como um todo (vide nosso comentário na matéria no Brasil Econômico).

Como o mercado brasileiro de Shopping Centers ainda está em franco desenvolvimento, e havendo um aumento significativo de empreendimentos tradicionais, surgiram outras oportunidades que vêm de encontro com a necessidades do mercado, tanto dos varejistas como dos consumidores.

Os Outlets são empreendimentos um pouco diferentes dos Shopping Centers tradicionais, e conta com três aspectos essenciais para ser um negócio atrativo e com bons resultados.

A oferta e procura é a principal delas.

Pela oferta, podemos salientar o reflexo do aumento de redes varejistas no Brasil, seja pela entrada de novos varejistas, seja pela diversificação de marcas brasileiras. Assim, crescendo a oferta, os varejistas passaram a necessitar de novos canais de venda para oferecer seus produtos e também para esvaziar aqueles produtos que ficaram no estoque. Pela procura, o mercado consumidor mudou bastante nos últimos anos, e suas necessidades também mudaram, assim, o consumidor brasileiro passou a ampliar suas aspirações de consumo, procurando por maior variedade e mais qualidade, porém, como ainda tem uma renda em crescimento, não pode dispensar os bons preços, o que faz surgir uma condição mercadológica muito atraente para o mercado de Outlets.

Outro fator importante é o fator econômico, uma vez que os Outlets representam oportunidades de crescimento de negócios, tanto para os empreendedores de Shopping Center como também para os varejistas, que podem experimentar novos canais de vendas e fomentar o desenvolvimento da produção e o aumento do retorno financeiro.

E por fim, outro elemento importante, é questão do estoque. Como as empresas varejistas cresceram, como há novos varejistas, e como a produção cresceu, o estoque de produtos também cresceu, e o Outlet é um canal excelente para proporcionar a saída desses produtos, especialmente os produtos das últimas “coleções”, sem comprometer o mercado regular e os novos lançamentos.

No Brasil, houve a tentativa de alguns players estrangeiros, porém, hoje, os grupos que estão desenvolvendo o mercado de Outlets são grupos brasileiros, como o Iguatemi no Platinum Outlet em Novo Hamburgo, a JHSF como o Catarina Fashion Outlet e a BRMalls com o Castelo Premium Outlet, ambos na Rodovia Castelo Branco em São Paulo, e de uma forma mais atuante a General Shopping com o Outlet Premium de Itupeva e mais outros em Brasília, Salvador e Rio de Janeiro.

Os Outlets não são um empreendimento destinado a marcas pouco conhecidas pelo mercado consumidor, como por exemplo, grandes atacadistas sem marcas próprias, por isso as marcas que ancoram os Outlets devem ser as marcas já conhecidas pelo mercado, ou seja, as mesmas marcas presentes nos Shopping Centers tradicionais.

Por isso, a grande diferença que torna um Outlet um centro de compras atrativo é justamente esse, o fato de oferecer marcas e produtos reconhecidos no mercado, mas com preços diferenciados.

Essa estratégia é fundamental para o sucesso de um empreendimento do tipo Outlet, caso contrário, os consumidores perdem o interesse, e consequentemente, a performance do empreendimento não gera o retorno esperado.

Além da questão do preço, é importante salientar que esse mesmo consumidor, que busca preços baixos, já não abre mão das comodidades, facilidades e entretenimento que encontra nos Shopping Centers tradicionais, e assim, os Outlets precisam ter uma estrutura atrativa, com soluções arquitetônicas que favoreça a permanência dos consumidores e que seja um empreendimento agradável, bonito e estruturado.

E outro aspecto muito importante para que os Outlets sejam viáveis é que os investimentos necessários para desenvolver esses empreendimentos também reflitam essa economicidade, ou seja, precisam ter um custo de construção e desenvolvimento menor do que os Shopping Centers tradicionais, e por isso, acabam sendo implementados em áreas contíguas aos grandes centros, normalmente nos arredores das metrópoles, uma vez que os terrenos são mais baratos, e, principalmente, para que não se sujeitem à concorrência direta dos Shopping Center tradicionais que são mais robustos e completos em termos de oferta de produtos, serviços e conveniências.

Há muitas explicações para o insucesso dos Outlets no passado, entre eles o fato de que o mercado consumidor ainda tinha o mesmo potencial que têm hoje, o fato de que o mercado do varejo era menor, e portanto, poucas empresas tinham estoque suficiente para alimentar suas lojas, e também porque esses empreendimentos era muito simples, sem grandes atrativos e que não representavam um local agradável para a convivência e permanência dos clientes.

Atualmente, a situação é diferente, e agora, os Outlets encontram grandes oportunidades no Brasil, e, os primeiros novos empreendimentos já estão começando a demonstrar que essa aposta pode ser uma alternativa interessante para investidores, empreendedores, varejistas e também para os consumidores.

Apenas para retratar o potencial de crescimento, nos EUA existem cerca de 193 Outlets, conforme dados da VRN Global Outlet Project Directory, enquanto o Brasil ainda está desenvolvendo seus primeiros novos projetos, ou seja, ainda que não seja possível alcançar o número americano, existe sim, um cenário promissor e um mercado potencial para desenvolver os Outlets no Brasil.

Mas os investimentos não param, e, estima-se que os Outlets representem, cada um, investimentos que variam entre R$ 80 milhões a R$ 150 milhões, dependendo do local que são construídos, do tamanho, da sofisticação do projeto arquitetônico e da qualidade construtiva do equipamento.

Outro modelo importante praticado no mercado americano que ainda não tem sido muito prestigiado no Brasil são os Outlets de empresas varejistas, que, podem, elas mesmas criar suas lojas Outlets não apenas como um estoque de peças fora de linha, mas como um outro tipo de ponto de venda, que, certamente, poderá atrair muitos clientes e consumidores interessados em ofertas mais econômicas, como por exemplo a Decathlon que já tem várias lojas espalhadas pelo Brasil.

Assim, se os Outlets brasileiros oferecerem ofertas interessantes para os consumidores, num espaço planejado, bem construído, com lojas relevantes, opções de entretenimento e lazer, e preços econômicos, certamente serão uma alternativa muito bem sucedida para o crescimento e o desenvolvimento de novos negócios.

Michel Cutait

Michel Cutait

Michel Cutait é especialista em Shopping Center e Varejo. Diretor da Make it Work, empresa especializada no desenvolvimento, planejamento, elaboração, produção, execução e administração de negócios para o mercado de Shopping Center e Varejo. Trabalha há 22 anos no mercado, tendo colaborado diretamente para mais de 100 empresas, incluindo 70 Shopping Centers e diversos varejistas, totalizando a gestão de ativos equivalente a US$ 5 bilhões em receita, 1,7 milhões m2 de Área Bruta Locável (ABL) e 11,2 mil lojas em operação. Além disso é advogado no Brasil e Portugal, escritor, perito, consultor e professor de cursos de extensão e pós-graduação em Shopping Center e Varejo, tendo ministrado aula para diversas Universidades como ESPM, Fundação Dom Cabral, Universidade Positivo e outras. Também apresenta palestras e realiza treinamentos sobre temas ligados ao mercado de Shopping Center e Varejo. Fez Mestrado em Gestão e Tecnologia na EPFL na Suiça, Marketing pela Curtin University na Austrália e Mestrado em Relações Sociais pela PUC/SP. Formado em Direito pela UNESP/SP. Certificado em Empreendedorismo em Varejo na Babson College em Boston/USA e Mercado de Ações pela BMF&Bovespa. Também estudou Doutorado em Ciências Jurídico-Economicas na Universidade de Lisboa em Portugal e MBA em Gestão de Shopping na FGV/SP. Administra e mantém o grupo "Shopping & Varejo" na rede de negócios do Linkedin.
Contato: michel@makeitwork.com.br
Michel Cutait

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